quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A segunda vez que te conheci - Marcelo Rubens Paiva

"O amor não acaba. Deixa rastro. Na esquina em que se beijaram uma vez, lá está ele, na poeira suspensa, na revolta da memória. Na solidão do domingo, lá vem ele, volta com lamento, um desespero. No teatro, no palco de história de amor, no cinema, na tela com beijos e risos, na tevê, que inveja, já tive um amor igual. Onde ele se escondeu?
Na sorveteria, o amor volta em lembranças. Porque aquele sabor era o preferido dela, aquela cobertura era a preferida, aquela sorveteria era a preferida, aquela esquina, bairro, clima, lua, aquele mês era o preferido dela, a temperatura, aquele programa de fim de tarde e aquele horário sem planos para a noite.
No elevador, quantas saudades daqueles segundos em silêncio, presos na caixa blindada, vigiados por câmeras camufladas, loucos para se agarrarem, apertarem todos os botões, tirarem a roupa, riscar na paredes: 'eu te amo'. Não se tem saudades do que não se ama.
Amá-la me faz bem. Mesmo que ela não me ame, amo amá-la. Continuei amando desde o dia em que terminou.Passei dias amando como se não tivesse acabado. O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. O amor não é o vazio. O anti-amor também é amor.[...]
Diz, não acaba. Repete. Falei?Não acaba. Pode virar amor não-correspondido. Pode ser amor com ódio, Paixão com amor, frustrado, mal resolvido. Tem o amor e o nada. Mas o nada também é amor. O amor não acaba. Vira. Só tenho uma certeza. Se acabar, não era amor."

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